Um dia eu virei meu avô

 Bom gente esse texto foi a hermana que escreveu em homenagem ao nosso querido avô...Eu amei quando ela escreveu porque ela conseguiu expressar tão bem tudo o que ele foi pra gente..E o verbo foi não é porque ele já se foi...Mais porque ele está com mal de alzheimer...Então esse é o sentido do texto!!!!  Espero que gostem!!!!

“Era da cor do mar o olho do meu avô.

Ele espiava o miolo das coisas.

Buscando ajuda da lembrança, meu avô estava em lugares que o olhar não alcançava.

E a neta, curiosa e viajante, tentava adivinhar o mistério escondido.

Onde será que se comprava o passaporte dos sonhos de seu avô?”

Um dia eu virei meu avô

Por Débora Casapê

Eu vivo em dois mundos há alguns anos...

Moro num paralelo de dois mundos opostos.

Um, é este que estamos agora;

O outro é o meu passado.

É! (pausa) Modéstia parte, isso não é tarefa para qualquer um não!

Não é que eu queira ser modesto, mas, imaginem vocês juntar o passado e o presente no mesmo tempo?

Parece coisa impossível!

Mas não para mim.

Vivo o meu passado, tempo de menino, enquanto no presente eu sou um velhinho charmoso e simpático.

E isso dá uma confusão! Que às vezes eu me complico todo!

Talvez é por isso que quando estou vivendo o presente, às vezes ouço um povo dizendo que eu voltei a ser criança.

Quando eu chamo alguém por outro nome, eles dizem que esse nome é de um dos meus filhos... mas como? Eu não tinha nem namorada ainda, muito menos idade para ter filhos!

Povo maluco...

Só que aí eu me lembro que estava trocando os mundos, e que no mundo de ser velhinho eu era pai de 11 filhos. Daí tentava concertar...

Tem vez que eu continuo na história, para dar uma de esquecido mesmo! (rs* é engraçado!)

Mas tem vez que eu vivo as vidas trocadas mesmo e nem me dou conta, perco a noção de espaço e tempo, vendo os dias se passarem em silêncio.

No mundo do passado eu vivo numa fazenda, com meus pais, com muitos cumpadres vizinhos, cuidando das vacas, que dormem depois do almoço embaixo de uma mangueira. Concerto cancelas e portas com as minhas ferramentas que tanto tenho apreço tbm, aprendi a ser carpinteiro com papai!

No mundo do presente eu moro na cidade, sou casado a 65 anos, e tenho 1001 netos, sobrinhos, afilhados e vizinhos.

Ave Maria!

É tanta vida numa só, é tanta gente em tanta vida, tantos papéis desempenhando em duas vidas que o certo deve ser se embolar mesmo no pensamento!

Mas teve um dia, que minha neta Débora, viu isso... E cismada em ser escritora resolveu colocar no papel.

(...)

Eu não sei se meu avô gostaria de ler a história que ele escreveu no meu coração e eu passei pro papel... Mas sei que ele gosta de poesias!

Meu avô é e sempre será o meu avô mais lindo dos mundos!

Quando eu olhava para ele, ficava encantada e emocionada sempre!

Paralisava olhando aquele ser e sorrindo para ele sozinha, só para contemplar aquela meiguice em forma de velhinho!

Foi meu avô que me ensinou a andar de bicicleta! E me esquecer deste episódio, jamais!

Meu avô saia pra rua e voltava pra casa com um saquinho marrom (igual do doutor chapatin, do chaves, rs*) cheio de bala pra mim e minha irmã! Quando não era bala, era penca de banana, e ele dizia:

“_Ó uma bananinha aí minha fia! Pra adoçar a boca!” rs*

Todas as vezes que eu viajava pra casa dele, ou ele para a nossa, tinha uma coisa que ele sempre falava na despedida pra mim, com as mesmas palavras:

“_Estudo é muito importante minha fia, sem estudo ninguém é nada na vida! Estuda mesmo para dar gosto seu pai e sua mãe!”

(pausa longa)

Tá bom vô! Tô estudando... Mas aprendizado maior, são todas as vezes que me sento ao seu lado, sorrio contigo e ouço suas histórias mágicas!

E eu acredito em todas viu!?

Ao seu lado eu entendo um pouco mais o homem, entendo mais a relação do homem com o mundo, entendo mais o sentido simples da vida, entendo mais a necessidade de um com o outro, entendo mais a precisão do homem para com a matéria, com o universo, com os seres, compreendo a precisão da ciência, da engenharia, da arte, da religiosidade e da medicina...

Mas filosofia de vida maior que a sua não há, Adely Caldeira!

E por ela caminharei!

Caminhar reto por caminhos com curvas!

E renovar o homem usando perfumadas pétalas de rosa de todas as cores!